III Workshop Internacional

Workshop em Curitiba evidencia descompasso entre avanço tecnológico e aprovação por órgãos de regulação

A rapidez com que as novas tecnologias em diagnósticos se desenvolvem permitindo detectar precocemente diversas doenças e o descompasso entre essa velocidade e o ritmo no qual, em geral, trabalham os órgãos encarregados de aprovar esses novos dispositivos médicos, esteve no centro da maior parte das apresentações, intervenções e discussões na terceira edição do Workshop Internacional Testes de Diagnóstico com Qualidade Assegurada e Acessível para Programas de Saúde Publica, ocorrido entre os dias 30 de outubro a 1º de novembro.

Promovido pela Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), em conjunto com o Tecpar – Instituto de Tecnologia do Paraná e a London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM), o evento levou à sede do instituto, em Curitiba, por volta de 100 pessoas. Um dos objetivos era, com base na experiência relatada por reguladores, membros do governo e da indústria, além de médicos, consultores e pesquisadores, estabelecer pontos de convergência para que esses novos dispositivos sejam incorporados mais rapidamente aos programas de saúde pública.

A sede do Tecpar foi escolhida para receber a recente edição do workshop. Foi também neste local que, no início de outubro, a CBDL e o instituto assinaram um termo de cooperação para o desenvolvimento do Centro de Excelência de Diagnóstico in-Vitro (CEDiV), do qual inicialmente fazem parte quatro empresas associadas à CBDL. A aposta é que, mais à frente, Tecpar e CEDiV, desenvolvam uma plataforma para a produção, distribuição e exportação de produtos para diagnóstico in-vitro.

Além de profissionais que atuam na área de saúde, participaram do encontro diversos técnicos do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), bem como outros profissionais que trabalham no segmento de diagnóstico in-vitro.

A abertura do workshop foi feita pelo secretário de Ciência e Tecnologia de Ensino Superior do Paraná, João Carlos Gomes e pelo presidente do Tecpar Júlio César Felix. A repercussão e a relevância do evento podem ser medidas pela quantidade de nacionalidades representadas, foram mais de dez países, incluindo Cuba, Inglaterra e Estados Unidos.

Gomes e Felix se mostraram otimistas nas suas previsões quanto aos resultados do workshop. “O evento será um marco na área de testes para diagnósticos de prevenção na saúde pública”, afirmou o secretário, avaliação que foi contextualizada por Felix ao destacar a histórica tradição que o Tecpar tem na área de saúde e antecipar o que espera com a instalação do CEDiV, na planta industrial da instituição que ele preside. “Teremos novas soluções para melhorar os diagnósticos no país”, previu Felix, ressaltando que a colaboração CBDL/Tecpar deverá atrair outras empresas do setor de diagnóstico in-vitro.

No primeiro dia das apresentações, chamou bastante a atenção da plateia a conferência da diretora da área de pesquisa em diagnósticos da London School of Hygiene and and Tropical Medicine (LSHTM), Rosanna Peeling. A médica sanitarista expôs, com detalhes, o trabalho que a escola que representa vem desenvolvendo em países da África e Ásia e os resultados que obteve ao unificar, processos de avaliações de novos testes de diagnóstico e dispositivos médicos e, com isso, reduzir o tempo de espera que um produto inovador precisa aguardar para ser lançado ao mercado.

A redundância de avaliações e procedimentos para atender aspectos particulares da legislação de cada país é, conforme explicou Rosanna, um imenso obstáculo, com repercussão nos custos e no tempo, para que tecnologias inovadoras sejam disponibilizadas a um maior contingente de pessoas. Rosanna disse que, em alguns países da África, testes destinados a verificar a presença do HIV no organismo precisaram ser submetidos a mais de 40 ensaios. “Podemos fazer melhor, mais seguro e mais barato” enfatizou.

O consultor internacional Freddy Tinajeros, que atua, sobretudo em países da América Central, relatou sua experiência como representante do CDC – Center of Disease Control dos EUA com o estabelecimento de modelos (baseados em algoritmos) que permitiram estabelecer parâmetros para antecipar o diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis (Aids, sífilis e clamídia, entre outros) em países da região. Tinajeros descreveu como colaborou para implantar um sistema de vigilância preventiva, envolvendo trabalhadoras do sexo, mulheres grávidas e homossexuais.

No terceiro dia, um dos aspectos mais importantes da sessão foi a hipótese cogitada de que a Organização Mundial de Saúde (OMS) possa vir a assumir a tarefa de aconselhar a adoção de testes que tenham sido habilitados para aplicação em outros países, evitando que estes tenham que ser certificados de acordo com as especificidades de cada estado-membro da organização.

Confira abaixo as apresentações