I Workshop Internacional

Padrões de qualidade e ausência de investimentos na área preocupa setor de diagnósticos na América Latina

Realizado nos dias 17 de 18 de abril, na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília, o encontro internacional sobre diagnósticos in vitro para a América Latina apontou a preocupação generalizada do segmento tanto com os padrões de qualidade dessas práticas como com a falta de investimentos no setor. Organizado pela Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) em conjunto a Fondation Mérieux e a London School of Hygiene & Tropical Medicine, o encontro contou com a presença de especialistas latino americanos, representantes de agências reguladoras, entidades da área e profissionais da saúde. Cláudio Maierovitch, diretor de vigilância epidemiológica, representou o Ministério da Saúde na abertura do encontro.

Umas das convidadas, a médica Rosanna Peelling, da “London School of Hygiene and Tropical Medicine” (LSHTM), comentou os vários problemas enfrentados em diversos países e deu como exemplo dessa situação a falta de acesso aos diagnósticos e de espaços apropriados para a prática laboratorial, além da carência de padrões de qualidade e da inexistência de fiscalização mais rígida. De 2008 a 2011, apontou a médica, a OMS fez uma triagem com teste rápido para o diagnóstico de sífilis na Amazônia, Haiti, Peru, China, Uganda, Tanzânia e Zâmbia. Foram constatados mais de 440 mil casos da doença. “Mais de 1 milhão de bebês morrem com sífilis congênita. A maioria das mães não faz triagem e, por isso, não recebem tratamento”, alertou a médica.

Outro dos palestrantes, Segundo Leon Sandoval, especialista em diagnósticos da Universidade Peruana Cayetano Heredia, discorreu sobre a realidade do setor de diagnósticos in vitro na América Latina e mostrou grande preocupação com a defasagem tecnológica – usou como ilustração a foto de um laboratório em seu país, na qual destacava-se uma máquina de escrever, com 20 anos de existência, e uma centrífuga da mesma idade, equipamentos que ainda continuam a ser usados nos processos para diagnosticar as doenças e emitir laudos.

No mesmo dia, a representante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marisa Adati, falou das ferramentas disponíveis para assegurar a qualidade nos diagnósticos e Manuel Morejón, chefe do departamento de diagnósticos de Cuba, discorreu sobre a experiência de seu país sobre o prisma da qualidade. Encerrando o primeiro painel, Rosanna Peeling abordou o controle pré-mercado e os programas de acesso às novas tecnologias. Ela propôs, ainda, constituir centros de excelência, onde os testes poderiam ser realizados com a orientação de um comitê técnico com protocolos de consenso.

Durante o evento, foram apresentados os resultados de uma pesquisa com 26 participantes (governos, universidades e setor privado) sobre a disponibilidade de IVD (diagnósticos in vitro) em programas de saúde pública na América Latina para as doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS (veja http://vimeo.com/40111854). De acordo com Adele Benzaken, da Fiocruz, responsável pela pesquisa, 80% disseram haver programas de saúde pública, 69,2% têm testes rápidos e 54% contam com regulações no registro obrigatório. A falta de recursos foi apontada por todos.

Na abertura do segundo dia do encontro, Jean François de Lavison, da Fondation Mérieux, tratou dos modelos de estruturas de saúde pública e Ellen Zita Ayer, do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, deu continuidade ao painel informando que o governo brasileiro tem compromisso em erradicar a sífilis congênita e reduzir em 10% a contaminação pelo HIV até 2015. De acordo com a médica, a procura pelos serviços de saúde pelos infectados é muito baixa – menos de 20% dos pacientes sintomáticos. Ellen também destacou a intenção do governo em ampliar a cobertura de vacinas para as hepatites.

Em sua participação, Rosangela Magalhães Ribeiro, também do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, apresentou o Telelab, Sistema de Educação a Distância para Profissionais de Laboratórios de Saúde Pública e Unidades Hemoterápicas do Ministério da Saúde.

Carlos Eduardo Gouvêa, secretário executivo da CBDL, fechou o encontro defendendo a formação de uma aliança internacional de diagnósticos in vitro (IVD) na América Latina – a proposta é que a aliança tenha sede em Brasília e atue em todo o continente americano, com a participação dos principais atores do segmento como academia, indústrias, associações, laboratórios privados e públicos, profissionais de saúde, instituições de pesquisa e governos.

(Por Maurício Santini – Oficina de Mídia)

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